Esses dias estava procurando no google uma historinha antiga do Horácio, aquele dinossaurinho da Turma da Mônica. O Tecodonte (amigo) o encontra caído e pergunta por quê. Horário diz que caminhava pensando em como era bom, gentil, humilde e amigo - e ninguém que é tudo isso se acha tudo isso. Por isso, a queda.
Eu adoro essa historinha.
E ela tem bastante a ver com a agitação recente das redes sociais sobre uma discussão (que nem nova é) sobre o ritmo de publicação das autoras autopublicadas. Explico mais pra frente, por enquanto vamos nos ater à treta.

Antes, um pouco de contexto da vida de uma autora autopublicada:
Sou professora universitária em uma área totalmente fora da literatura: Direito. Sou graduada, pós-graduada, mestre e doutora em Direito, leciono em um centro universitário. Esse trabalho formal consome uma grande energia diária para ser bem realizado, principalmente porque eu tive, em 2024, uma carga horária extensa e ainda amo pesquisa.
Assim como eu, várias autopublicadas possuem outro trabalho, muitas vezes formal, que paga os boletos enquanto a escrita não é rentável. Ou exatamente porque a escrita não é rentável para todo mundo. Ou, ainda, porque a escrita pode ser rentável, mas não paga todos os boletos. Motivos não faltam para se ter dois ou três trabalhos nesse mundão capitalista, não é mesmo?
Além desse trabalho, também sou advogada. E escrevo. E publico desde 2009 no formato independente, mesmo que já tenha passeado por algumas editoras. E, como alguém que preza estudo e conhecimento como uma das coisas mais importantes do ser humano racional, eu estudo muito - muito mesmo! - para me manter competitiva nesse mercado e entregar bons livros.
E eu publiquei seis livros esse ano. Seis. Sem contar o livro que traduzi e publiquei em inglês na Amazon gringa. Foi um esforço tremendo, porque meu trabalho de escritora nem sempre tem hora para começar. Estabeleço metas diárias e vou, mas publicar não é apenas escrever. Tem edição 1, edição 2, revisão 1, edição 3, revisão 2, diagramação, divulgação. É um trabalho sem fim, que acontece durante todo o dia e a noite, e que nos compromete integralmente.

Tudo isso para ouvir de quem nunca publicou um livro que é impossível publicar tantos livros assim em um ano.
Certo, não foi uma pessoa, foram várias, e não falaram para mim, mas falaram de mim. Porque eu sou uma dessas autoras autopublicadas que escrevem muito, escrevem sempre, são constantes e publicam muito. Então, colega, se você falou que é impossível que alguém faça o que eu faço, você falou de mim. E, se falou de mim, aqui estou para dizer:
Trabalhar com escrita é disciplina. É constância. É sentar a bunda na cadeira diante do computador, meter o fone de ouvido e escrever até sua meta ser batida. É estudo. É suor e dedicação.
E, acima de tudo, é entender que cada profissional tem seu ritmo e seu valor, cada história tem seu tempo e seu momento e cada indivíduo é único em suas experiências.
Eu lancei seis livros. Minhas colegas, sete. Outras lançaram dois e está tudo bem entre nós. Ninguém acusou ninguém nem apontou dedos porque conhecemos nossas rotinas e entendemos que, apesar de todo esforço e disciplina, às vezes a vida acontece. E, como autora autopublicada é profissional liberal, ela faz sua própria jornada, é sua própria chefe, e não precisa ficar refém de carga horária (mas fica, se quiser).
Autoras autopublicadas que produzem muito geralmente se cercam de auxílio. Possuem betas fiéis, revisoras de conforto, capistas, divulgadoras e assessoras que auxiliam na hora de carregar o fardo - principalmente porque não existe exército de uma pessoa só.
Sabem aquela ideia de escritora isolada, solitária, que senta diante de uma máquina de escrever em um lugar isolado, com uma garrafa de vinho, e tem uma editora simpática e doidinha que cobra um livro novo mas entende o lento processo de bloqueio que essa pobre escritora está sofrendo? Pois ela não combina com o mercado da autopublicação e é bem possível que só exista hoje em Hollywood.

O escrever pode ser solitário, mas o publicar não é - e a autora independente é os dois processos em um. Escrever não é apenas um ato criativo de jogar em palavras aquelas ideias mirabolantes que temos na cabeça, isso depende do seu objetivo. Se você quer vender seus livros e obter renda deles, se pensa em “viver da escrita”, se quer ser uma autora de livros publicados, então seu foco deve ser em produção artística para o mercado - e isso tem seu preço, seu custo, seu valor e seu bônus.
Apontar dedos é geralmente uma prática de quem não foi lá e fez. Sabem por que pensei na historinha do Horácio quando me vi inserida nessa discussão? Porque o mercado literário é um festival de egos ao mesmo tempo que demanda uma disciplina e uma dedicação incompatíveis com tudo isso.
Enquanto algumas ladram, outras trabalham. E está tudo bem.
A partir da próxima newsletter, um especial sobre a minha rotina de trabalho e tudo o que faço sozinha para dar conta dos meus seis livros por ano. Fiquem ligadas =)
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